Uma história pessoal e honesta
Baterista do Pink Floyd narra a trajetória da banda com detalhes, sem poupar críticas
Nick Mason (de bigode) ao lado da formação original, com Syd Barrett (à dir.)
É redundante falar da importância do Pink Floyd na história da música (e não apenas do rock). Basta saber que sua obra figura em listas dos maiores álbuns de todos os tempos ou perceber a influência do quarteto inglês sobre inúmeros artistas. Na dúvida, aventure-se pelas mais de 400 páginas de "Inside Out", biografia da banda escrita pelo seu baterista, Nick Mason (membro-fundador e único presente em todas as formações do grupo).
Publicada originalmente em 2004, tem como subtítulo "uma história pessoal do Pink Floyd", narrada em primeira pessoa, de dentro para fora, como sugere o título em inglês – mantido na edição brasileira, recém-lançada.
O fato de ser uma história pessoal, no entanto, não tira a grandeza da obra. Mason tomou o cuidado de inserir a narrativa em um contexto bem mais amplo, indo além da simples memória, traçando, assim, um amplo panorama cultural e sociopolítico de um período que compreende cerca de quatro décadas. Para isso, houve muita pesquisa e entrevistas.
Psicodelia
Leia sem parar
No texto, vê-se emergir a psicodelia na segunda metade dos anos 60, tendo o Pink Floyd como um de seus precursores. Seus primeiros shows, em pequenos "inferninhos", chamavam a atenção pelo uso de um sistema de iluminação próprio (embora rudimentar), com "luzes líquidas", coloridas, que proporcionavam estímulos visuais fortes – fora o som peculiar.
É uma história que nasceu sem compromisso, reunindo amigos de faculdade ligados a arquitetura ou às artes, interessados em fazer música, experimentar sonoridades e se divertir. Aos poucos, pessoas entraram e saíram, até formar-se o line-up original, que trazia Mason (bateria), Roger Waters (baixo), Rick Wright (teclados) e Syd Barrett (guitarra).
Este último foi peça-chave na banda nos primeiros anos, como principal compositor e letrista, até sofrer um colapso nervoso na virada de 1967 para 1968. Mason não entra em detalhes sobre o que, de fato, ocorreu. Ele reforça, contudo, as especulações em torno dos abusos de LSD (Syd, tudo indica, não tinha estrutura psíquica para suportar os efeitos da droga).
Com a saída de Syd, em 1968, coube a Roger Waters a maior parte do trabalho de composição – pelo menos até 1986, quando a relação dele com os demais integrantes começou a se deteriorar, culminando com sua saída no ano seguinte. A partir de então, David Gilmour, que substituiu Syd em 1968, assumiu as rédeas da banda.
Nick é bastante reflexivo e analisa obras e situações vividas por ele e seus companheiros. É autocrítico, quando necessário, e fala sem pudor sobre como falharam ao lidar com a crise de Syd, as escolhas equivocadas sob a expectativa de faturar uma boa grana, as experiências musicais malsucedidas ou os conflitos internos (muitas vezes por motivos idiotas).
Outro ponto forte de "Inside Out" são as descrições do autor sobre os processos de composição e gravação das obras primas do Pink Floyd. Depois de ler as histórias de cada álbum, voltar à discografia da banda torna-se uma experiência completamente nova.
Fonte: A Gazeta
Tiago Zanoli
tzanoli@redegazeta.com.br
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Repleto de imagens provenientes do arquivo pessoal de Nick Mason, Inside Out é um livro indispensável tanto para os fãs veteranos quanto para aqueles que estão descobrindo o Pink Floyd agora. Além disso, Nick criou uma cronologia que destaca os principais fatos da história da banda. Suas lembranças são acrescidas por extensa pesquisa e entrevistas, fazendo desta obra um documento completo sobre sua história.
Inside Out já foi publicado na Rússia, República Tcheca, Estados Unidos, Espanha, França, Hungria, Bulgária, Itália, Alemanha e Polônia.
“São poucas as histórias no rock tão grandiosas quanto a do Pink Floyd. Duvido que alguém poderia contá-la tão bem quanto o homem paciente e espirituoso que assistiu a tudo isso do seu posto atrás da bateria.”
Paul Du Noyer, editor-fundador da revista Mojo
“É muito bem escrito, detalhado, autodepreciativo e cômico. Um livro seminal – uma inteligente e culta biografia do rock and roll cheia de franqueza e humor.”
Alan Parker, diretor de cinema
“Um profundo prazer – uma história rica, engraçada e fascinante. Nick é um guia maravilhosamente enxuto e objetivo.”
Peter Gabriel, músico
“Mason poderia muito bem ter trilhado uma carreira como escritor. Tem um estilo comedido e organizado que leva com objetividade e sagacidade… Ele escreve com a calma autoridade de alguém que esteve de fato presente à época… Uma das melhores histórias do panteão do rock.”
David Sinclair, The Guardian
Confira abaixo alguns dos trechos mais interessantes de Inside Out – A Verdadeira História do Pink Floyd, lançado no Brasil no início deste ano:
"Para mim aquela noite foi o momento em que eu soube que eu queria fazer isso da maneira correta. Eu amava o poder de tudo aquilo. Não havia necessidade de se vestir com jaquetas “Beatles” e camisetas de colarinho, e não havia necessidade de ter um cantor bonito lá na frente. Nada de seguir estruturas como verso-refrão-verso-refrão-solo-refrão-fim nas músicas, e o baterista não estava lá atrás em uma horrível plataforma… ele estava na frente."
"Roger trouxe sua própria garrafa (Whisky) e ofereceu a Janis (Joplin) um gole. No fim do show ela devolveu a garrafa, esvaziada…"
"Syd estava sendo difícil de lidar, se não “maluco”. Depois de fazer mímicas para o playback durante o “ensaio”, ele apenas ficou lá parado sem vida na hora da gravação, enquanto o diretor dizia nervoso “Ok essa é a hora”. Então Roger e Rick tiveram que fingir o vocal, Syd estava apenas parado relaxado e olhando sem expressão para uma meia distância."
"A reação de Syd a esse show importante foi desafinar sua guitarra durante “Interstellar Overdrive” até que as cordas caíssem."
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