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23/09/2017

"The Wall" Live 80-81(2012/Flac) & Prof. Christian Dunker, Psicanalista - USP (resenha)


Is There Anybody Out There?





"Talvez o maior desafio de 'The Wall' seja mostrar que o coletivo ainda é possível, que apesar de tudo, o mundo ainda tem jeito. "Eu acredito que nós temos chance de aspirar a algo melhor do que o ritual de matança ‘cão come cão', que é a resposta atual ao nosso medo institucionalizado pelo outro. É minha responsabilidade, como artista, expressar o meu otimismo e incentivar outros a fazerem o mesmo."  Roger Waters.




"Pink Floyd está para a música como Joyce está para a literatura: suas obras são marcadas por rupturas de pensamento e uma espécie de 'loucura produtiva'.”


Prof. Christian Dunker



"Pink Floyd, loucura, Lacan & Rock n' Roll"


Quando se pensa em rock a primeira associação costuma ser com ruptura, rebeldia e contracultura. Desde seu início esse tipo de música tenta pensar o futuro antes que ele chegue. Pink Floyd é uma banda anômala em seu gênero, uma experiência musical sobre a impossibilidade de esquecer e sobre o custo devastador que um coletivo deve pagar para continuar tornando-se o que é. Pink Floyd é uma banda em torno de um personagem ausente e ao mesmo tempo onipresente. Quatro alunos de arquitetura na Londres do final dos anos 1960 são acolhidos por um intelectual de esquerda decidido a dar expressão ao comunitarismo emergente. Dos quatro, foi Syd Barrett quem escreveu todas as letras dos dois primeiros álbuns. Insistindo na importância da equivalência entre força dramatúrgica e dimensão musical, introduzindo máquinas de retorno e ressonância nos shows e valorizando a experiência da luz e da iluminação. Não é uma coincidência que "The wall – O filme",  tenha sido a única produção relevante na passagem do rock para o cinema.

Depois de um ano de estrada Syd Barrett enlouqueceu. Olhar perdido, impossibilidade de reconhecer seus colegas, sentimento de perseguição: o alheamento tão comum em outros astros que permanecem “produzindo rock” no interior de sua loucura deu lugar a notas fora de lugar dedilhadas durante os shows e desafinamentos. Permanecia sentado no palco durante toda a apresentação. Muitas bandas se viram privadas de seu gênio fundador, mas mesmo com a gradual entrada de Dave Gilmour o lugar de Syd jamais pôde ser esquecido. O “verdadeiro” Pink Floyd não está nem na formação original, nem nas sucessivas tentativas de se tornar independente, ora sob liderança de Roger Waters, ora sob domínio de David Gilmour – mas na impossibilidade de escapar do “I Wish You Were Here” (Eu queria que você estivesse aqui).

Para um leitor de Jacques Lacan é fácil perceber que Pink Floyd está para a música como Joyce está para a literatura. Nos dois casos a produção artística é marcada por flutuação narrativa, rupturas de pensamento, descompasso entre música e letra, neologismos, experiências de radical estranhamento em relação ao corpo, com à linguagem e o outro. Aparecem epifanias, sentimentos de irrealidade, divergência entre saber e crença, sem falar nas alucinações e nos delírios. A psicose é “reapropriada” por uma forma de loucura produtiva.

Quando Barrett trouxe sua última composição "Have you got it yet?" (Já pegou?), cada vez que o grupo tentava executá-la Syd alterava a progressão de acordes e o ritmo, de tal forma que a própria performance definia-se por esta exclusão, deixando Roger Waters, Nick Mason e Richard Wright com a impressão de que não tinham “pego” a música. "Have you got it yet?" é uma dessas interpelações alusivas, tão frequentemente presentes na psicose, que nos fazem perguntar: “Mas pegar o que mesmo?”. E diante de nossa estúpida pergunta verificar que “ainda não pegamos”. É assim que Barrett está fora do discurso – mas não fora da linguagem. É assim que ele pode fazer parte de Pink Floyd como experiência de inclusão social da psicose, registro vivo de que há diferenças que não valem a pena serem esquecidas.

E aqui não se trata apenas da perda, da culpa e do luto pela incapacidade de mantê-lo como membro funcional de um grupo de rock, mas da pergunta radical que diz respeito ao que devemos fazer com as questões colocadas pelo que se inscreve em uma época, em uma cultura, em uma história, em uma banda. Pink Floyd mostra, tal como o caso de Antígona e das tragédias em geral, que há algo de universal nesta experiência particular de loucura.

Algo que nossas leis e nossa forma de vida ainda não conseguem reconhecer, mas que acima de tudo precisa ser posto em toda extensão de sua contraditoriedade, criando o limite da liberdade, sem a qual ficamos mais pobres.

*Texto de Christian Ingo Lenz Dunker (psicanalista, professor do Instituto de Psicologia da USP) sobre a loucura na produção artística marcada pela ruptura, delírio, descompasso e estranhamento radical. .

12 de junho de 2012 - Revista Mente e Cérebro.


Is There Anybody Out There? (1980/81)
The Wall live (2012, Immersion Edition, EMI, USA, 5099902943923) 2012



Este álbum foi gravado entre 1980 e 1981 quando Pink Floyd  executou "The Wall" no Earls Court, em Londres. Produzido por James Guthriem, que como visto no blog anteriormente, foi engenheiro e co-produtor do "Pink Floyd", junto com a banda e seus membros em todos os projetos, inclusive supervisionou a remasterização do catálogo do Pink Floyd (recebendo três prêmios da Surround Music Awards por sua remasterização 5.1 do 30° aniversário de edição do álbum "Dark Side of the Moon", em 2003). Ele recebeu um Grammy por seu trabalho (engenheiro) no álbum The Wall, de 1980, e um British Academy of Film and Television Arts award pelo melhor som de filme (The Wall ) em 1982. O álbum aqui em destaque, chegou ao 19º lugar na tabela Billboard 200 e atingiu platina (1 milhão de cópias vendidas) em maio de 2000, nos Estados Unidos. 

As apresentações incluem duas faixas que não aparecem  no disco de estúdio: "What Shall We Do Now" & "The Last Few Bricks". 

No começo os músicos de suporte à banda, entram mascarados, o que certamente confunde os espectadores. Essas máscaras estão retratadas na capa do CD. Quando "Pink Floyd" surge em frente à cena a partir da segunda música, o show “vem abaixo” de tanta emoção. Como se sabe, "The Wall" foi uma visão de "Roger Waters". Um documento autobiográfico. Em tese, "Waters" trouxe à consciência esse desejo, logo depois do espetáculo final da turnê "Animals", de 1977, no Estádio Olímpico de Montreal, no dia 6 de julho. Nesse dia, os fogos de artifício tomaram conta do estádio, e uma bomba estourou bem em frente ao palco, quando "Roger" cantava a canção "Pigs On The Wing". O susto do cantor associado ao temor do fato e a indignação de que o público não estaria interessado em suas letras fez que com que "Waters" interrompesse o show e, num rompante de raiva, cuspisse num dos fans que gritava incessantemente... Este fato surrealista fez com que "Roger" se desse conta que ambientes intimistas seriam mais adequados para apresentações de seus shows.

David Gilmour, em entrevista concedida à Radio WZLX de Boston, afirma que "Roger" sempre se preocupou em saber se os espectadores estavam conseguindo escutar suas letras, ingrediente essencial, (e brilhante), em suas obras. "Nick Mason" não apenas confirma essa afirmação, mas indica que essa preocupação era mais de "Roger" mesmo, pois a preocupação dos outros integrantes da banda era com a parte musical em primeira instância, e teatral, subsequentemente. Mas como mentor intelectual dos álbuns conceituais da banda e possuidor de uma personalidade forte, "Roger" acabava por impor seus objetivos… Entretanto, representar "The Wall" foi o estopim de um processo interno que o incomodava muito. Na verdade, pode-se dizer que a partir dessa turnê "Roger", (crendo que definitivamente),  idealizou  nunca mais  se apresentar em grandes estádios, (o oposto de seu ponto de vista atual, isto em razão do aporte tecnológico, tornando sua relação com a platéia muito mais acessível). Segundo ele próprio dizia, “Isso é uma contradição! A cada vez que se quer aproximar-se do público (em um movimento de direção mais intimista), os grandes estádios nos colocam em palcos cada vez mais afastados do público, estimulando apenas uma idolatria e não uma conscientização e uma apreciação crítica do espetáculo”.

O CD original foi lançado em duas versões: uma edição limitada e uma edição regular. A edição limitada é um long box onde se destaca um livro de capa dura que apresenta fotos inéditas, informações gerais e ainda entrevistas. Na edição regular encontra-se dois livretos como se fosse uma síntese das informações contidas na primeira. Os discos são os mesmos, embora a definição da imagem no disco feito na Inglaterra seja de melhor qualidade do que a impressão americana.

A ópera-rock  “The Wall” não é apenas um espetáculo ao vivo, é uma perfeita sincronia entre música e representação teatral, onde a falta de um interfere na presença do outro. 


"The Wall" representa o fim de uma era, sendo um dos marcos finais da era do rock laboral, vinculado a imaginação criativa, municiado pela emoção, buscando uma comunicação mais cerebral, quando a geração proveniente da herança psicodélica dos anos 1960, dominou a produção do rock progressivo durante quase 20 anos, que cede lugar a uma geração com novos valores musicais, liderada pelo movimento Punk e suas reminiscências. Boa audição!




Tracklist:



1. Mc: Atmos
2. In The Flesh?
3. The Thin Ice
4. Another Brick In The Wall (part I)
5. The Happiest Days Of Our Lives
6. Another Brick In The Wall (part Ii)
7. Mother
8. Goodbye Blue Sky
9. Empty Spaces
10. What Shall We Do Now?
11. Young Lust
12. One Of My Turns
13. Don't Leave Me Now
14. Another Brick In The Wall (part Iii)
15. The Last Few Bricks
16. Goodbye Cruel World


01. Hey You 04:55
02. Is There Anybody Out There? 03:09
03. Nobody Home 03:15
04. Vera 01:27
05. Bring The Boys Back Home 01:20
06. Comfortably Numb 07:26
07. The Show Must Go On 02:34
08. MC: Atmos 00:37
09. In The Flesh 04:22
10. Run Like Hell 07:05
11. Waiting for the Worms 04:13
12. Stop 00:32
13. The Trial 06:01
14. Outside The Wall 04:28


David Gilmour – electric and acoustic guitars, vocals, mandolin on "Outside the Wall", musical director
Nick Mason – drums, percussion, acoustic guitar on "Outside the Wall"
Roger Waters – bass guitar, vocals, acoustic guitar, clarinet on "Outside the Wall"
Richard Wright – piano, organ, synthesizer, vocals, accordion on "Outside the Wall"

Additional musicians

Andy Bown – bass guitar, acoustic guitar on "Outside the Wall"
Joe Chemay – backing vocals
Stan Farber – backing vocals
Jim Haas – backing vocals
John Joyce – backing vocals
Andy Roberts – guitars (1981 shows)
Snowy White – guitars (1980 shows)
Willie Wilson – drums, percussion
Peter Wood – keyboards, acoustic guitar on "Outside the Wall"
Gary Yudman – MC




FLAC
ulozto.net/CD3+Scans - (505 MB)
uloz.to/CD4 - (323 MB)





Comentários interessantes:

Que lição tirar de Pink Floyd: The Wall? (Educar para crescer - Abril S.A.)

A ópera-rock desconstrói os valores atribuídos à instituição escolar e expõe o conflito entre as necessidades particulares e coletivas. A distopia retratada no filme chama a atenção para pequenos delitos

Filme: Pink Floyd: The Wall, dirigido por Alan Parker, com Bob Geldof, 1982. 

A História: Órfão de pai (morto durante a Segunda Guerra Mundial), o jovem Pink Floyd (Bob Geldof) tem a infância marcada pela perseguição de seu professor e pela superproteção da mãe. Adulto, ele se torna um astro do rock e entra em depressão. Para salvar sua consciência e a própria vida, Pink terá de lidar diretamente com os fantasmas do passado. 

"É emocionante, uma grande lição de vida, redenção e fraternidade que leva o aluno a pensar, refletir e conscientizar-se frente às situações agressivas da vida. Para pais e professores, o contato com a dor, com as mazelas da humanidade é sempre um excelente recurso para a construção de vidas felizes e equilibradas", justifica a coordenadora pedagógica Sueli Marchetti Zaparolli, do Colégio Luiza de Marillac, de São Paulo. 

"Buscar ver as coisas de modo diferente. Não aceitar padrões; repensá-los. Tentar perceber no mundo os padrões existentes e quais precisam ser quebrados para que as mudanças gerem ganhos sociais ou mesmo pessoais. Como o protagonista, o jovem hoje muitas vezes também é conduzido por forças que não conhece na sociedade de consumo. Ele acaba sendo induzido a comprar, a consumir, a pensar seguindo interesses específicos", diz Leandro Alcerito, professor de biologia do Colégio Vértice, de São Paulo.



*Christian Ingo Lenz Dunker Psicanalista, doutor em Psicologia pelo IP/USP com pós-doutorado pela Manchester Metropolitan University, professor livre-docente do Departamento de Psicologia Clínica do IP/USP, membro da EPFCL–SP, autor dos livros: “Lacan e a Clínica da Interpretação“, ed. Hacker, “O Cálculo Neurótico do Gozo”, ed. Escuta e “Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica”, ed. Annablume.






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