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15/09/2017

“David Gilmour Live at Pompeii” é o filme do ano e nem há discussão possível (NiT - Portugal)




Excelente matéria, que achei bacana compartilhar aqui no blog, porque não foi feita somente por um jornalista, um crítico, mas também por um indiscutível fã do Pink Floyd, confira:


Por NiT - Lisboa - Portugal

texto
Nuno Bento


Foi como a passagem de um cometa – efémera e espetacular. O melhor filme do ano esteve nos cinemas esta semana e quem não estava avisado, nem deu por ele. Como um cometa fulgurante, “David Gilmour Live at Pompeii” também foi visto apenas por uma só noite, numa única exibição nos cinemas um pouco por todo o mundo. Quem viu, saiu da sala deslumbrado; quem não viu, tem que esperar pelo DVD/Blu-Ray. Mas já não vai ser a mesma coisa.

Ver o “David Gilmour Live at Pompeii” no cinema, imerso num sistema de som pomposamente batizado de ‘Dolby Atmos’ (um sem-número de colunas espalhadas por toda a sala), sentiu-se como um privilégio. Um espetáculo para os sentidos e uma experiência quase-religiosa. Foi certamente o mais próximo que poderia estar de regressar àquela noite mágica em Pompeia. Não me odeiem, mas sim, eu estive “lá” há um ano e foi “só” a melhor noite da minha vida. Na altura, contei aqui na NiT a história da minha imensa expectativa para o concerto e, na ressaca, o sentimento que depois daquilo não havia mais nada para ver. Sorte a minha que o David decidiu gravar aquela noite para a eternidade. 

O filme começa com um pequeno documentário a contar a história de como David chegou a Pompeia e conseguiu autorização para o primeiro espetáculo com público no anfiteatro romano desde o tempo dos gladiadores (79 d.C., para ser mais preciso). David já ali tinha atuado com os Pink Floyd em Outubro de 1971, mas sem público, para a gravação do filme “Pink Floyd Live At Pompeii” de Adrien Maben. No seu regresso, David tocou para uma audiência de apenas duas mil pessoas em duas noites, com o filme a documentar quase exclusivamente a segunda noite (a melhor das duas, mas sou suspeito – foi a minha!). Das imagens dos ensaios em Brighton com a nova banda – devidamente vigiados pelo lindíssimo Kahn (o pastor-alemão do David) – saltamos para Pompeia e para a recepção heroica de David por parte do presidente da cidade, que o distinguiu como cidadão honorário. E assim chegamos à noite do concerto e ao prato principal do filme.


O concerto abre com o instrumental “5 A.M.” (que também dá início ao último álbum “Rattle That Lock”), num magnífico plano de um drone a cobrir o anfiteatro em ruínas, sob o olhar ameaçador do Vesúvio ao fundo. O vulcão esteve tranquilo nessa noite e não se importou de assumir os papéis de cenário e personagem-chave no filme; também ele queria ver o David, aposto.

É muito difícil apontar momentos altos no orgasmo contínuo de duas horas que se seguiu. Talvez “High Hopes”, porque é só a melhor música de sempre; talvez “Sorrow”, porque estremeceu todo o complexo do Almada Fórum (a única sala na zona de Lisboa com o sistema ‘Dolby Atmos’); talvez “One Of These Days”, porque foi o único tema repetido de 1971 e o momento mais puro Floyd da noite; talvez “Comfortably Numb”, porque tem o melhor solo de guitarra do universo e mais além.

Mas houve muito mais além do já esperado brilhantismo da épica música dos Floyd (e do David a solo). Perdidas no filme, houve diversas pequenas pérolas que fizeram brilhar o filme-concerto: por exemplo, o momento em que David é surpreendido pelo arsenal descarregado no fogo-de-artifício em “Run Like Hell” e tem uma visível reacção de “qué esta merda?”a olhar para o céu (acreditem, eu também fiquei estúpido a ver aquilo); quando Roger Waters faz uma aparição especial neste tema, com o seu grito maníaco a rebentar nas colunas traseiras da sala; ou quando David abre o coração e fala sobre “fantasmas do passado” em Pompeia, referindo-se a Richard Wright, seu amigo e colega dos Floyd, falecido em 2008.

Senãos? Houve poucos. O maior terá sido a realização demasiadamente esquizofrénica, sinal dos tempos que correm. Não há tempo para apreciar um plano, porque o realizador salta logo para o seguinte. Saudades dos planos longos e contemplativos da guitarra de David no filme original dos Floyd. Aqui cada plano não dura mais que 3 a 4 segundos, o que não casa muito bem com o tom melancólico de grande parte da música ali tocada. Materializar um momento tão superlativo numa fita de filme não era tarefa fácil, admito-o. Gavin Elder – o realizador – fê-lo de forma fenomenal, mas entusiasmou-se um bocadinho demais. Não o condeno.


A nível sonoro, para quem está a obsessivamente ouvir o bootleg do concerto desde há um ano, também tenho umas coisas a dizer: de positivo, a pós-produção de bom gosto a que certos temas foram sujeitos, com a introdução de alguns efeitos sonoros que ouvimos nos álbuns, nomeadamente o já referido grito do Roger no “Run Like Hell”, o rádio em “Wish You Were Here”, ou os relógios em “Time”; de negativo, o inexplicável afogamento das partes do baixista Guy Pratt na mistura. Guy é uma besta do baixo e gosta de introduzir aqui e ali várias licks de improviso que dão um toque de imprevisibilidade aos espectáculos de David; é um espectáculo dentro do espectáculo. Foi uma pena perceber que as suas licks foram suprimidas, ou ficaram indissociavelmente perdidas na mistura. 


Note-se que o concerto foi fortemente editado para a versão de cinema. Tive pena, porque a sala anunciava um filme de 180 minutos e a sessão acabou por durar pouco mais de duas horas, já contando com o documentário. Mas compreendo que nem todo o público tenha estômago para uma sessão de 3 horas e meia. Os temas cortados na versão de cinema foram: “Faces Of Stone”, “The Blue”, “Money”, “Fat Old Sun”, “Coming Back to Life”, “On An Island”, “The Girl In The Yellow Dress” (esta felizmente nem no DVD estará) e “Today”. Aproximadamente uma hora de concerto que fica em exclusivo para o lançamento DVD / Blu-Ray do filme do ano.


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