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18/07/2012

Pink Floyd - Atom Heart Mother (1970) D.B. Set 2011



No início dos anos 70, o mundo ainda vivia o efeito devastador da transformação social ocorrida no final da década passada. Reinava a expectativa de sobre como o mundo reagiria dali por diante após mudanças tão radicais.

No cenário artístico-cultural também se fazia presente tal questionamento. O fim do “beatlecentrismo” no meio musical fazia com que a atenção não só do público, como da crítica e, sobretudo, das gravadoras, se dispersasse em direção a outros artistas que apareciam com destaque no fim da década passada. Dentre as novidades, uma delas se destacava como a viga mestra de um movimento que ganhava corpo a cada dia, o psicodelismo. Seu nome era Pink Floyd.


Os dias atravessados por Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright, porém, não eram nada comparados aos passados acerca de três anos antes. Originária de um sucesso de público e crítica devido ao conceito criado sobretudo por Syd Barret, era visível a crise de criatividade e o abalo emocional vividos após a saída de seu mentor original. Após a estréia marcante com o aclamado “The Piper at the Gates of Dawn”, e o conseqüente estrelato, veio o contestado “A Saucerful of Secrets”, última obra de Barret com o grupo. Sucederam, já com Gilmour nas guitarras, várias participações em trilhas sonoras em filmes, com destaque para “More” e “Zabriskie Point” – verdadeiros clássicos do gênero – e o conceitual “Ummagumma”, o álbum duplo que reunia, em um disco, quatro faixas ao vivo e, no outro, faixas solo de cada um dos integrantes. Quando os anos 70 chegaram, contudo, um novo álbum precisava ser lançado.

A concepção do projeto “Atom Heart Mother” não foi nada fácil. A obra tinha que causar impacto, prenunciando como seria o novo Pink Floyd. Pela primeira vez a banda faria um álbum próprio, de carreira, sem a influência de Barret. Após várias discussões, veio de Roger Waters a idéia de compartilhar o processo de autoria do álbum com Ron Geesin, músico de jazz, expoente da cena vanguardística londrina. A idéia foi de pronto apoiada por Mason, que o conhecia de outros tempos, pois trabalhava com a produção de trilhas sonoras de filmes e programas de televisão. O músico tinha, inclusive, produzido a trilha de um documentário sobre automobilismo dirigido pelo pai de Mason anos antes. Waters e Geesin se conheceram na produção da trilha sonora de “The Body”, da BBC inglesa, que resultou no primeiro álbum solo de Waters, em 1969, chamado “Music From The Body”. Várias demos de material inédito foram entregues a Geesin, sob o desafio de que ele conseguisse extrair desse material algo que prestasse. As fitas se constituíam, na maior parte, de sobras de gravações das referidas trilhas sonoras. Após quebrar a cabeça pensando no que fazer, ele propôs à banda algo inédito até então na música pop mundial: a elaboração de uma suíte, nos moldes dos clássicos eruditos, subdivididas em vários atos. Foi a partir daí que surgiu a polêmica e incompreensível faixa título do álbum.


Trancafiados nos estúdios da EMI, em Abbey Road, o Pink Floyd deu início às gravações daquele que seria um dos discos mais importantes da história do rock mundial. “Atom Heart Mother”, a música, se apresentou como uma grande peça teatral, subdividida em seis atos. O resultado foi grandioso. A gravação contou com estrutura digna de uma orquestra sinfônica, estando presentes um cello solo, uma dezena de instrumentos de sopro – com destaque para o solo de trompas francesas – e um coral de 20 pessoas, sob a regência do maestro John Alldis. A suíte apresentou uma duração aproximada de 24 minutos. O início é impactante com “Father’s Shout”, onde é dada uma pequena demonstração do virtuosismo do grupo, tendo ao fundo a desafinação dos instrumentos de sopro simulando vozes humanas. Após, vem “Breast Milky”, marcada pela impecável interpretação do coral, sustentada pela melodia marcante dos teclados de Wright. “Mother Fore” retoma a instrumentalidade da faixa, com uma estrutura bluesística, alternada com vocais furiosos. “Funky Dung” apresenta a experimentação das faixas em estúdio de “Ummagumma”, onde uma mescla de ruídio estereofônicos criam um cenário de suspense, originando uma estrutura que viria a ser retomada em “Echoes” (do álbum Meddle) e “On The Run” (de Dark Side of The Moon). “Mind Your Throat Please” retoma a musicalidade da canção. O grand finale vem com “Remergence”, que repete as estruturas da primeira parte, em um final apoteótico. A faixa era uma experiência auditiva fantástica, visto que o álbum foi um dos primeiro a ser gravados no sistema quadrofônico estéreo, que subdividia o som de cada instrumento em um canal diferente para o ouvinte. Algo complexamente trabalhado que tomou o lado A inteiro do álbum, numa experiência inédita no Rock mundial.


O lado B do álbum começa com a cativante “If”, de autoria de Waters. À primeira vista parece uma cantiga de ninar, porém, quando examinada a letra se vê uma forte ode à insanidade humana. A temática seria a marca registrada de Waters para o resto da carreira. O violão dedilhado cortado pela guitarra de Gilmour é um clássico. A letra, marcada por suposições, (vide os versos “If i were a swan, I’d be gone / If I were a train, I’d be late / If I go insane / Please don’t put yoru wires in my brain”) foi feita, sem dúvida, em homenagem a Syd Barret e seu momento difícil. Segue-se a esta “Summer 68”, uma das melhores músicas do grupo. De autoria de Wright, trata-se de uma canção singela sobre um relacionamento efêmero seu com uma groupie no verão de 1968. A música segue o seu curso normal até que, de repente, é cortada pela clássica intervenção de Gilmour gritando “How do you feel?”, como se questionando o ouvinte do que sente no momento. Então se percebe presença de metais em estilo barroco, ilustrando o clima da música. Após a retomada da normalidade, a segunda intervenção é feita por toda a orquestra presente na gravação de “Atom Heart Mother”, numa mistura única de sons vista na história da música contemporânea.

A faixa de Gilmour, “Fat Old Sun”, traz a mesma estrutura melodiosa anteriormente apresentada pelo grupo na faixa “Green Is The Colour”, da trilha do filme “More”. Trata-se de uma balada, onde a melhor parte, sem dúvida, é o solo de guitarras no fim da faixa. “Fat Old Sun” ficou famosa por ser a música de trabalho do álbum e pela interpretação forte do grupo em seus shows ao vivo, em quase nada lembrando a versão calma gravada em estúdio. O disco acaba com “Alan Psichedelic Breakfast”, outra faixa conceitual. Com duração de cerca de 13 minutos e subdividida em três atos (“Rise and Shine”, “Sunny Side Up” e “Morning Glory”), a faixa consiste basicamente em experiências estereofônicas que buscam retratar sonoramente o café da manhã de Alan Stiles, um dos roadies do grupo. Na faixa, é possível ouvir o bacon fritando e alguém fazendo sua higiene pessoal. A música só foi interpretada uma vez ao vivo, tendo a banda, no palco, fritado o bacon e tomado café em frente a um incrédulo público.


Atom Heart Mother é um álbum até hoje incompreendido por grande parte do público. Inegáveis são, contudo, a sua qualidade vanguardística e a influência que causou na música, não só de um modo geral como também no próprio grupo. A idéia de disco conceitual foi a partir daí desenvolvida, influenciando vários outros artistas, como é o caso do progressivismo de Rush e Yes. As inovações sonoras do álbum foram mais tarde desenvolvidas pelo próprio grupo em praticamente todas as outras obras da banda, com ou sem Waters.

Além da música, o disco tem uma das capas mais enigmáticas da história da música. O bovino mais famoso do rock mundial aparece tanto no vinil, quanto no CD. A rês Lullubelle III, uma cruza das raças holandesa e normanda (ao contrário de suas colegas da contracapa, puramente holandesas), foi fotografada em uma propriedade rural do interior da Inglaterra. A gravadora pagou ao dono da propriedade cerca de mil libras pelos “direitos de imagem” do animal. A propriedade virou ponto turístico, e Lullubelle, uma celebridade do showbusiness mundial.



Pink Floyd
Atom Heart Mother - 1970
Discovery Box Set - 2011



Letras & Traduções:


"IF"

If I were a swan, I'd be gone
If I were a train, I'd be late
And if I were a good man
I'd talk with you more often than I do
If I were to sleep, I could dream
If I were afraid, I could hide
If I go insane
Please don't put your wires in my brain

If I were the moon, I'd be cool
If I were a book, I would bend
If I were a good man
I'd understand the spaces between friends
If I were alone, I would cry
And if I were with you
I'd be home and dry
And if I go insane
Will you still let me join in with the game?

If I were a swan, I'd be gone
If I were a train, I'd be late again
If I were a good man
I'd talk to you more often than I do


"SE"

Se eu fosse um cisne, eu estaria morto
Se eu fosse um trem, eu chegaria atrasado
E se eu fosse um homem bom
Eu falaria com você com mais freqüência
Se eu fosse dormir, eu poderia sonhar
Se eu tivesse medo, eu poderia me esconder
Se eu enlouquecer
Por favor, não coloque seus fios em meu cérebro

Se eu fosse a lua, eu seria ameno
Se eu fosse um livro, eu me dobraria
Se eu fosse um homem bom
Eu entenderia as distâncias entre os amigos
Se eu estivesse só, eu choraria
E se eu estivesse com você
Eu iria para casa e secaria
E se eu enlouquecer
Você ainda me deixará participar do jogo?

Se eu fosse um cisne, eu estaria morto
Se eu fosse um trem, eu chegaria atrasado outra vez
Se eu fosse um homem bom
Eu falaria com você com mais freqüência


"SUMMER '68"

Would you like to something before you leave?
Perhaps you'd care to state exactly how you feel
We say goodbye before we've said hello
I hardly even like you
I shouldn't care at all
We met just six hours ago
The music was too loud
From your bed I came today
And lost a bloody year
And I would like to know, how do you feel?
How do you feel?

Not a single word was said
They lied still without fears
Occasionally you showed a smile
But what was the need?
I felt the cold far too soon
In a wind of ninety-five
My friends are lying in the sun
I wish I was there
Tomorrow brings another town
Another girl like you
Have you time before you leave
To greet another man
Just to let me know, how do you feel?
How do you feel?

Goodbye to you
Childish bangles too
I've had enough for one day


"VERÃO DE 68"

Você gostaria de algo antes de ir embora?
Talvez você não ligasse em expor como você se sente
Nós dissemos adeus antes que disséssemos olá
Eu nem mesmo gosto de você
Eu não deveria me preocupar
Nós nos encontramos há apenas seis horas
A música estava muito alta
Da sua cama eu cheguei hoje
E perdi um ano sangrento
E eu gostaria de saber, como você se sente?
Como você se sente?

Sequer uma palavra foi dita
Eles ainda mentem sem medo
Ocasionalmente você mostrou um sorriso
Mas qual era a necessidade?
Eu senti o frio distante tão cedo
Em um vento de noventa e cinco
Meus amigos estão tomando sol
Eu queria estar lá
O amanhã trará de outra cidade
Outra garota como você
Você tem tempo antes de partir
Para cumprimentar outro homem?
Apenas me deixe saber, como você se sente?
Como você se sente?

Adeus a você
Pulseiras infantis também
Eu tive o bastante por um dia


"FAT OLD SUN"

When the fat old sun in the sky is falling
Summer evening birds are calling
Summer's thunder time of year
The sound of music in my ears
Distant bells
New mown grass smells so sweet
By the river holding hands
Roll me up and lay me down
And if you sit
Don't make a sound
Pick your feet up off the ground
And if you hear as the warm night falls
The silver sound from a time so strange
Sing to me, sing to me

When that fat old sun in the sky is falling
Summer evening birds are calling
Children's laughter in my ears
The last sunlight disappears

And if you sit
Don't make a sound
Pick your feet up off the ground
And if you hear as the warm night falls
The silver sound from a time so strange
Sing to me, sing to me


"O BOM E VELHO SOL"

Quando o bom e velho sol se põe no céu
Os pássaros ao entardecer de verão estão chamando
O trovão de verão numa época do ano
O som da música em meus ouvidos
Sinos distantes
A grama cortada recentemente cheira tão docemente
À beira do rio, de mãos dadas
Me levante e me deite
E se você sentar
Não faça barulho
Pise na ponta dos pés
E se você ouvir, enquanto a noite quente cai
O som nítido de um tempo tão estranho
Cante para mim, cante para mim

Quando o bom e velho sol se põe no céu
Os pássaros ao entardecer de verão estão chamando
O sorriso das crianças em meus ouvidos
O último raio de sol desaparece

E se você sentar
Não faça barulho
Pise na ponta dos pés
E se você ouvir, enquanto a noite quente cai
O som nítido de um tempo tão estranho
Cante para mim, cante para mim

ALAN'S PSYCHEDELIC BREAKFAST (Instrumental)

O PSICODÉLICO CAFÉ DA MANHÃ DE ALAN (Instrumental)



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Texto: Alisson dos Santos Cappellari

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